07 fevereiro, 2012

Dickens, o precursor da teledramaturgia



Leitura obrigatória nas escolas dos países de língua inglesa, Charles Dickens seria algo equivalente aos nossos queridos Machado de Assis e Jorge Amado, tanto em importância como em popularidade. Suas obras são, junto com as de Jane Austen, campeãs de adaptações da BBC (mais aqui). Exímio storyteller, Dickens criou personagens atemporais, multifacetados e cativantes. E como suas obras foram escritas em formato serializado, elas se adaptam facilmente à linguagem televisiva. Foi ele inclusive quem popularizou o cliffhanger (gancho), um recurso narrativo muito usado na TV para deixar o público na expectativa do próximo episódio.

Hoje Dickens estaria completando 200 anos. Por isso, Jace Lacob, do 
Daily Beast, resolveu perguntar aos roteiristas das séries Lost, NCIS, Big Love e Veep  qual a influência que o autor vitoriano teve em suas carreiras. Abaixo um resumo das respostas (versão completa em inglês aqui).

Gary Glasberg (de NCIS)
"Não consigo deixar de imaginar o que Dickens acharia da TV. Horas e mais horas de histórias de mistério, suspense e comédia produzidas no decorrer de um ano... Pensando bem, ele daria um excelente roteirista para a TV... Ei Charles, se você está disponível, tenho duas vagas para freelancer. E não se preocupe com os intervalos comerciais. Nós inserimos eles depois."

Damon Lindelof (de Lost)
"Acho que poderia dizer tranquilamente que Lost não existiria sem Charles Dickens. Ele é uma grande inspiração para tudo que amo em storytelling. A forma como ele publicava suas obras, em capítulos mensais, popularizou o storytelling serializado. E isso mais de um século antes da invenção da TV. Além disso, ele mudou o final de Great Expectations quando seus leitores reclamaram... Bom exemplo de como escutar sua comunidade de fãs."

Carlton Cuse (de Lost)
"Dickens foi o mestre irrefutável dos cliffhangers. Ele contava histórias serializadas, complexas e cuidadosamente construídas em torno dos personagens, que eram publicadas em jornais e atraíam um enorme público. Então nós pensamos, por que não podemos usar o mesmo modelo para Lost? Ele faz você querer saber não apenas o que vai acontecer depois, mas o que vai acontecer com aquele personagem especificamente. Isso se tornou mandatório entre os escritores de Lost: a mitologia é importante, mas mais importante ainda é contar uma história convincente e envolvente a respeito de nossos personagens."

Armando Iannucci (de Veep e The Thick of It)
"Em Little Dorrit, por exemplo, que mostra o quanto o governo e a burocracia não funcionam, admiro sua habilidade de ir do cômico para o dramático ou mordaz num pulo, e seu talento para manter a trama se desenrolando em três níveis diferentes."

Will Scheffer e Mark V. Olsen (de Big Love)
"Nosso personagem favorito é Oliver Twist, porque nos faz mergulhar no universo da pobreza (um ótimo recurso para apresentar este mundo aos leitores educados e de alto poder aquisitivo da época). É também um retrato do próprio artista, que sabe que, como Oliver, está destinado a algo maior."


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